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domingo, 31 de julho de 2011

Invasão de Pensamentos

Como ousas? Invadir assim meus pensamentos, fora de hora, em horas impróprias. Meus pensamentos são meus! Não te basta invadir meus sentimentos, meu desejo, minha paz? Agora invade meu sono, meus sonhos... E vai... É um “grileiro” na minha alma. Dividindo em “lotes” cada pedaço de mim e tomando posse!
Não nego que me é prazeroso algumas invasões, que me turva os sentidos, me tira do chão, me carrega de mim mesmo, da rotina imposta das regras criadas. Mas, me quero de volta! Dominar-me por completo. Essa é a única forma de liberdade e essa rebeldia, esse domínio de pensamentos e sentimentos, sou eu! Não reconheço essa que não domina mais a si própria.
Preciso te expulsar tomar de volta cada pedaço invadido. Falta-me vontade! É irresistível! É como se a força de atração do teu domínio fosse maior do que meu instinto. Há algo em mim que quer te pertencer!

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Monarca

Andando pela ilha verde, encontro de vez em quando uma borboleta monarca morta. É uma das partes tristes do inverno... Além do céu quase sempre cinza, as árvores sem folhas, o silêncio que só é quebrado pelo vento.
Admiro as borboletas monarcas, a fragilidade aparente, o colorido exótico e a força real são inspiradores! Em alguns pontos até me identifico com a vida de uma monarca.
São animais migratórios, essa migração de dois meses ultrapassa o tempo de vida da monarca por isso o ciclo de ida e volta envolve até quatro gerações. Ela inicia a sua vida como um ovo posto em uma folha de serralha. Quando o ovo eclode aparece uma lagarta listrada, branca, amarela e preta que come vorazmente! Somente folhas de serralha, que possui um leite branco e tóxico, não para a lagarta, mas torna seu corpo tóxico para os predadores. Seu corpo irá sofrer ”mudas” de pele durante seu crescimento. Esse processo repete-se cinco vezes. Só então ela para de comer procura um lugar protegido pendura-se de cabeça para baixo e fia uma junta de seda e muda de pele mais uma vez, um embrulho compacto, chamado ninfa, encasulado numa crisálida, verde clara com pontos dourados.
Nesse ponto não há nenhum movimento, só o coração ainda bate o resto dos órgãos parecem mais uma gelatina verde, enquanto a massa corporal vai se transformando numa criatura completamente diferente. A cor verde escurece e tem um aspecto de morta. Gradualmente há uma modificação nas cores, a crisálida vai tornando-se transparente e já se pode visualizar áreas cor -de- laranja e preta. As cores da borboleta adulta.
Finalmente, após cerca de duas semanas, a crisálida abre-se e emerge uma borboleta. Em breve, após secar suas asas, se descola do chão, lançando-se no ar, podendo ser vista no jardim de alguém a beber néctar de uma flor ou voando por cima das nossas cabeças à procura de um companheiro para recomeçar todo o ciclo novamente.
Como as monarcas, eu também tenho vontade de fugir do inverno, migrar orientada pelo sol! Também gostaria de “mudar de pele” assumir outras formas. Invejo a coragem e a versatilidade da Monarca!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Sem riso.

A ilha verde encontra-se meio vazia,
E a casa amarela um tanto silenciosa, falta à música flutuante dos discos de vinil.
Eu também sinto um certo vazio e um excesso de liberdade... Posso ficar sem comer, posso ficar acordada a noite toda, tomar vários banhos, me trancar no quarto o dia todo (quando estou de folga), andar de pijama por ai... Enfim, dona de mim mesmo!
Ainda estou triste, minha está alma doente e isso se confunde com a sua ausência. Falta-me vontade de tudo até mesmo de chorar. Gostaria de chorar! Tudo e tanto, que tudo que tem de ruim fosse levado em uma enxurrada de lágrimas.
Minha solidão é acompanhada e assistida, com todos os paparicos que nem mereço. Fico por aqui em meios as rizadas da Sara e da Mel. Todos agora têm mania de me fazer comer, panquecas, sucos, chocolates, lanches o tempo inteiro. Toda essa atenção me faz bem!
Trabalhar tem sido difícil, é uma guerra comigo mesmo levantar e ir para escola exibindo um falso sorriso, uma alegria inexistente e uma vivacidade há muito meio morta. Tenho conseguido, penso que até convenço! As pessoas se percebem, não comentam.
Espero estar melhor quando você voltar. Quero te receber com as risadas de sempre! Não aguento mais ver olheiras no meu rosto, nem essa cara tão sem riso que nem é minha. Enquanto você não vem aproveito para descumprir regras, cometer excessos e exercer toda a liberdade anárquica que me faz guardar.
Mas quer saber? Sinto falta do seu mau humor, da sua proteção exagerada e da sua mania de me controlar! Minha escova de dentes sente muito falta da sua!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Alma

Hoje não choveu na ilha verde,a casa amarela tem cheiro de sol! Ele esteve por aqui e por ali espiando por entre o verde brilhante das folhas. O frio ainda persiste e não há insetos ou pássaros... Impera um silêncio. Esse silêncio é o eco da minha alma!
Minha alma anda assim ultimamente, silenciosa. É como se não estivesse ali! Sinto minha vida suspensa... Não me encontro mais em mim mesma.
Não é um silêncio pesado ou ruim, é como uma bruma leve que envolve tudo de forma lenta e suave. Pouco a pouco até que faz desaparecer o riso, a fala a vontade. Minha alma encontra-se de joelhos e sente saudade sei lá de que...

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Onde Está?

Procura-se
Vontade de
Comer
Dormir
Trabalhar
Chorar ou sorrir
Conversar e ouvir
Quem encontrar a minha vontade
Por favor, devolva-me.
Faz-me muita falta!

domingo, 17 de julho de 2011

Revogados!

A caminho da ilha,
Novamente, amanhã. O sentimento é de tristeza, uma profunda e inconsolável vontade de chorar, um nó que teima em não sair da garganta. Somos náufragos de uma educação que há muito sobrevive de destroços e sobre eles.
Perdemos nossos direitos. A palavra de ordem foi revogar! Como a rainha de copas que ordena ao seu exército de cartas: “Cortem as cabeças”. O governador ordena aos seus comparsas deputados: “Revoguem!”.
Revoguem: Plano de carreira, gratificações, triênios... Revoguem, também, a justiça, as leis, a dignidade e o direito de pensar.
Ser professor está em mim como uma característica genética, no DNA. É nato! Nasci professora. Hoje sem minha carreira, minha dignidade, meu direito de pensar e principalmente o direito de acreditar nas leis, em quem faz as leis em quem às executa e em quem as que às julga, me pergunto: Eu existo?
Revogaram meu direito de existir! Como posso existir como professora se me negam direitos a cidadania? Essa lei trás em suas entrelinhas algo implícito, revoga-se e extingue-se de uma vez por todas o professor!
Volto à ilha, pra ver se me encontro, no sentimento e no olhar de cada um, na vontade e na força de luta. Vou até lá encontrar forças, me reabastecer de coragem, reforçar minha indignação. É lá que vou trocar o nó na garganta por um grito de liberdade!
“Deixe-me ir preciso andar, vou por ai a procurar, rir pra não chorar. Quero assistir o sol nascer, ver as águas do rio correr, ouvir os pássaros cantar. Eu quero nascer, quero viver. Se alguém perguntar por mim, diga que só vou voltar quando eu me encontrar”. (Cartola)

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Luto!

Passei dois dias na assembleia legislativa,
Fui até lá para ver sepultados, todos os meus sonhos profissionais, minha carreira e a Educação do Estado de Santa Catarina. O que não espera era ver ser sepultada ali sobre aquele tapete vermelho toda a minha fé na justiça, na lei e na constituição.
Ali eu me senti, violentada. Vi o regimento da assembleia ser rasgado, vi ser desvalorizada, desprezada a constituição desse país, vi que deputados da oposição também não tem direitos. Foi um massacre, simplesmente burlaram e usaram de todos os artifícios pra massacrar uma minoria de deputados que ficaram ao lado dos professores. Acabaram com o plano de carreira como se estivessem assoprando uma vela, sem nem mesmo se alterar.
Dentro da assembleia e nos corredores, professores gritavam em protesto, vaiavam, choravam, batiam nos vidros, o sentimento é indescritível! E nada, ninguém se comoveu! Votaram e sepultaram a educação, sem nem mesmo ter a coragem de pedir a palavra e explicar porque nossos direitos estavam sendo suprimidos, porque se é “um avanço” para educação, havia ali 4000 professores protestando contra a aprovação?
A única atitude próxima de um ser humano normal e digno que tiveram, foi o medo! Sentiram medo e chamaram o BOPE, para nos intimidar, nos calar e nos impedir de alguma violência. Violência que tínhamos, sim, vontade de cometer, afinal, somos humanos. Mas, que jamais seria cometida, não está em nós esse tipo de atitude, a situação justificaria, mas professores são por natureza, pacíficos.
Apesar de toda dor que senti, penso: ainda bem que ainda estava em greve, que bom que fui até lá. Lá eu protestei, gritei, confesso que até bati naquele vidro e chorei, muito! Vi tudo o que tinha de professor em mim, ser sepultado. Hoje, estou de luto! Meu coração ainda dói, acho que é pra me mandar um recado de que ainda vivo! “Viver apesar de”.
Como a águia, preciso “arrancar minhas velhas penas, unhas e bico”, renovar minhas forças para voltar. Preciso me recompor, os alunos merecem um bom professor, tentarei fazer o meu melhor! Confesso, que aquele amor que parecia incondicional, o velho amor pela educação, nesse momento parece morto, assim como eu! A parte de mim que continua viva e forte lutará com todas as forças, por outro caminho que não mais a escola pública. Mas, enquanto ainda for professora irei honrar o juramento que fiz, por duas vezes nas duas licenciaturas!
E Jamais esquecerei o governo de Raimundo Colombo e o nome de todos os deputados que votaram contra a educação, anotei em um caderninho em que anoto aquilo que precisa ser sempre lembrado, repetirei como oração, em todas as oportunidades, está lá sob o título: “inimigos da Educação”.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Desgoverno

O Desgoverno,
A cada vez, uma novidade, ninguém pode acusar esse governador de não ser “criativo”, a minha situação é dramática, eu não tenho piso, não tenho gratificações, não tenho folha de pagamento, não tenho carreira, ainda sou professor? Ou Colombo revogou minhas duas licenciaturas e a minha especialização?
Meu telefone toca dia e noite de domingo, não posso sair à rua, porque a pergunta é uma só: “Então as aulas iniciam na segunda? O Governador afirmou na TV!”. O que respondo? Pergunto-me. De verdade! Tenho vergonha de responder: Não! É mentira do governador, ainda há muitos professores em greve e a maioria das escolas estarão fechadas. Sinto vergonha, se ele não sente, eu sinto por ele! Acho que vou fingir ser gaúcha!
Segunda feira dia em que a “justiça” finalmente seria “justa”! Doce engano, se não temos salários, não temos carreira, não temos profissão então não existimos! Não há justiça para inexistentes! Eu só sinto que um fiapo de mim existe, porque me mantenho em greve. Isso me reveste de uma dignidade, de um orgulho que me faz sentir grande. Tão e tanto que achei até graça de toda essa “baderna” judicial! Acho ótimo que não pague, não quero mais! Eu estou aprendendo com o mestre. Se ele não se preocupa, não tem responsabilidade, fala qualquer coisa pra enganar a população... Porque eu, um ser considerado “insignificante” pela lei e pelos governantes, tem que se preocupar?
Vou lutar sim, porque a MINHA PALAVRA tem valor, continuo em greve enquanto a maioria decidir por isso! Mas, voltei a me sentir um louco Dom Quixote, lutando contra os moinhos! Na verdade, já não sei contra o que estou lutando, já que a cada dia, um novo “moinho”, uma nova artimanha aparece. Ou eu sou o moinho e o louco é quem tenta me derrubar? Não sei. A certeza é que lutarei até o fim!

domingo, 10 de julho de 2011

Agora sou "Anarquista"

Anarquia, esse foi o primeiro termo coerente que o governador do estado usou. Concordo plenamente, estamos vivendo uma anarquia. Anarquismo (do gregoἀναρχος) anarkhos, significa "sem governantes", sem soberania, reino, magistratura. É uma filosofia política que engloba teorias, métodos e ações que objetivam a eliminação total de todas as formas de governo compulsório. De um modo geral, anarquistas são contra qualquer tipo de ordem hierárquica que não seja livremente aceita e, assim, preconizam os tipos de organizações libertárias.
Estamos realmente sem governo, já que este não decide nada, não cumpre as leis e não reconhece a autoridade do poder Judiciário. Pode-se observar em nosso governador o não reconhecimento de hierárquias quando seu próprio secretário da educação não tem conhecimentos dos rumos dados a educação. Quando descumpre uma ordem de um juiz e do supremo.
Nós professores somos anarquistas? Na concepção errônea de governador do que é anarquia, sim. Ficou claro que para ele anarquista é aquele que não cumpre as regras definidas por ele. E que ele é soberano a todas as regras vigentes. Então, somos “Anarquistas Graças a Deus”, e estamos formando uma organização libertária. Essa greve nos liberta de uma vez por todas de todos os desmandos desse “governo desgovernado”.
No que se refere a não reconhecer o governador como uma autoridade, estamos por um fio de não o reconhecer, é dificil reconher como autoridade quem manipula a opinião pública com declarações que não refletem a verdade. Quem tenta fazer valer sua vontade atravéz de ameaças e ordens descabidas. Alguem que tenta enrolar toda uma classe com promessas e suprime seus direitos descaradamente. Impossível reconhecer como autoridade quem submete crianças e adolescentes a uma simples moeda de troca, usados para “amolecer” a vontade dos professores.
A cada leitura das “vantagens” alcançadas com a greve, percebo que perdi alguma coisa, minha profissão nem mais me pertence, já que não tenho mais uma carreira, a folha de pagamento é uma incógnita e passou a ser uma arma usada para me impedir de pensar, acabar de vez com a minha cidadania, liberdade de lutar por justiça. Ainda me pertenço? Enquanto resisto na greve, penso que sim! Caso volte, creio que ai estarei lá nas senzalas do governador.
Meu grito: “Onde está a minha carta de Alforria?”
.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Inspiração!

Voltar à ilha,
Outra vez o mesmo ritual, levantar cedo, frio de fazer desistir!
Mas fui. Ao contrário do meu irmão que ia com a certeza de que a greve continuaria e com contas e mais contas tentava me convencer, minha sensação não era de esperança ou expectativa era a certeza da derrota. Para mim o meu era voto vencido. Mesmo assim, não mudei de opinião. Não por teimosia, por certeza! Certeza de que essa era a atitude mais digna, comigo mesmo, com meus filhos a quem devo ser exemplo e com meu pai a quem devo a honra de ter sido filha. E que durante toda uma vida falou daquele seu jeito firme, do tempo em que a palavra valia mais que uma promissória: “Leis e regras, têm que ser cumpridas e a palavra dada precisa ter valor!”.
Eu fui para ver encerrada uma história, para ver meu plano de carreira ser sepultado, só assim eu poderia voltar pra sala de aula e dizer, eu lutei, até o final, mas não foi possível! No ônibus a minha opinião parecia ser compartilhada, mas alguns ainda tinham esperanças.
Durante a viajem a conversa girava em torno de dois assuntos, as tabelas, malditas tabelas! Calculadoras em mãos, procurávamos avanços, os misteriosos avanços, eu ainda não os achei! O outro assunto era, caso voltássemos, assim, da forma como está, o que cada um faria para sair da educação.
Quem esta de fora, deveria vestir a pele de um professor por algumas horas! Só então entenderiam o tamanho do problema, quando um professor pensa em desistir de lecionar! É como alguém que abandona o grande amor. É um ato de desespero! Quando escuto alguém falar sobre perder o apoio da sociedade, penso: Até onde vai esse apoio? Vejo tantos professores aposentados, passando por dificuldades e não vejo apoio da sociedade. Quando escuto alguém clamar pela volta as aulas, que pensemos em seus filhos, penso: E os meus? Uma boa educação só se faz com amor e respeito. Preciso me amar, me respeitar ter uma velhice garantida para poder amar meus alunos e garantir-lhes o direito de aprender.
Ao chegar à passarela a musica era uma versão de “Solo Le Pido a Dios” de Mercedes Sosa, me encheu de uma esperança nova! Eu que não sei esperar. Emocionei-me, ao ouvir a tradução de tudo o quanto eu havia pensado e ouvido, reescrevo apenas uma parte:
Eu só peço a Deus
Que a dor não me seja indiferente
Que a seca morte não me encontre um dia
Vazio e solitário sem ter feito o suficiente
Eu só peço a Deus
Que a mentira não me seja indiferente
Se um traidor tem mais poder que um povo
Que esse povo não esqueça facilmente...
E a assembleia seguiu com discursos inflamados! Alguns até ofendem, dizem o que não devem!... Perdoados, é o calor do momento! Resultado das regionais, nossa cabeça era somar quem era a favor da continuidade da greve e quem era contra. Apesar da maioria das regionais serem contra a continuação da greve o número de professores a favor era maior.
Aclamação: Foi aclamada por maioria a continuidade da greve, eu me reconheci nessas pessoas que, procuram com muita esperança, nas malditas tabelas e não encontram as lendárias vantagens.
Os desistentes, respeito de verdade sua opção! Estou decepcionada, sim! Não vou mentir algumas regionais pra mim eram exemplos de resistência. Mas sou contra as pessoas que radicalizam e ofendem as pessoas que tem pensamentos contrários aos seus. Na verdade, ninguém sabe quem está realmente certo. Cada um tem a sua própria verdade! Quem se absteve da votação, democraticamente, perdeu seu direito e a oportunidade de viver mais um momento único, vibrante e histórico.
Encerro com Mercedes Sosa em outra canção: “Como La Cigarra”
Tantas vezes me mataram
Tantas vezes morri
Entretanto estou aqui
Ressuscitando
Graças dou à desgraça
E a mão com punhal
Porque me matou tão mal
E segui cantando...

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Indecisão!

Pela primeira vez, nesta greve, a espera é pela quarta feira. O que será decidido em assembleia?
Foi preciso à invasão na secretaria da educação, a ameaça dos pais de entrarem na justiça para que então, só então, o governador ouvisse os professores. Passei o domingo esperando a proposta do governador e até o momento analisando e lendo, tudo o que foi escrito a respeito. Confesso que não consegui ainda me posicionar diante da situação, se devo ou não ser favorável à volta para sala de aula.
Caso seja favorável, não é porque acredite que houve avanços. Não. No meu caso pessoal, tive perdas, de todos os tipos, as perdas financeiras, o desgaste emocional e por fim e mais importante a perda da fé, aquela fé inocente de acreditar, em quem governa. Acreditar nas leis, acreditar que
o que é justo prevalece. Caso decida voltar é porque realmente cheguei à conclusão de que não adianta, que estou perdendo o meu tempo, nadando contra a corrente.
Não considero tirar a “sujeira” debaixo do tapete, perder direitos garantidos, levar a público minha miséria, um avanço! Para isso, eu poderia ter ficado em sala de aula, falar aos alunos, escrever, postar na internet, poderia discursar nas reuniões de pais. Não é preciso uma greve como essa para “limpar” a casa.
Minha natureza é contra gestos bruscos, contra invasões, contra falar no meu salario e reclamar da minha vida em sala de aula, é a primeira vez de estou em greve e de acordo com a greve. Mas minha natureza sofre e é de se rebelar contra as injustiças! Por isso aplaudi cada gesto dos grevistas, passeatas, panelaços, acampamentos, invasão e até mesmo algumas vaias! Foram manifestações legitimas e democráticas, de quem, quando educado nunca é ouvido.
Talvez eu me decida por continuar em greve. Por egoísmo? Também. Já escrevi que acho necessário certa dose de egoísmo a sobrevivência. Esta na verdade seria a decisão que me faria sentir mais confortável comigo mesma, menos covarde, mais correta. Não costumo brigar, nem mesmo discutir. Mas também não sou de desistir de algo em que acredito. E acredito que o que os professores do estado de Santa Catarina estão sendo injustiçados, humilhados, roubados e ainda acusados por estarem lutando pelos seus direitos!
Em todos os textos que escrevi sobre a greve, me referia a não haver vencedores nem perdedores, mas agora quero deixar bem claro que, se eu voltar agora para sala de aula, sou uma perdedora! Fui derrotada naquilo que tenho de mais caro o dom de acreditar nas pessoas e o orgulho de ser catarinense.
De bom, dessa experiência eu fico, com a certeza da importância da minha profissão, a sensação de dever cumprido por ter entrado no movimento e não desistido, a compreensão da fragilidade de uma categoria como a nossa diante do poder público, a necessidade de conhecer melhor a leis e de quanto eu preciso repensar meus votos nas próximas eleições!

sábado, 2 de julho de 2011

Real e Imperfeito


Anna agora vivia sua vida real, ainda morava em um lugar pequeno e calmo e continuava só, muito mais só do que antes. Sua companhia era a solidão e as dores reais de uma vide real. Eram dores etéreas, um imenso vazio e a consciência de sua realidade! Uma realidade pisada, pobre de coragem e de opção!
Ela agora tinha um amor real, não era bonito, nem perfeito. Mas existia, era intenso, carnal sensual. É claro que não era um amor comum, a pessoas como Anna não é permitido um amor assim. Também não é um amor platônico, pelo menos não o que popularmente chamamos platônico, já que não é correspondido nem sabido pelo ser amado... Tão pouco o amor descrito por Platão, amor perfeito. Não. É totalmente imperfeito como são todas as paixões e todos os sentimentos intensos que nos roubam de nós mesmos. Podemos chamar esse amor de... Segredo.
Amava em segredo, passava o tempo imaginando o que ele estaria fazendo, se gostaria da roupa ou perfume que usava ou da forma como penteava os cabelos. Qual reação teria ao vê-la nua em frente ao espelho, como seria acordar em seus braços... Enfim, não era mais Anna, era a imaginação do que seria o seu amor se soubesse ser amado!
Quando o via ou ouvia sua voz voltava à vida, antes não, estava em latente estado de espera. Em sua presença, respirava o som de sua voz, seu corpo inteiro tornava-se consciente da presença dele, sua alma alimentava-se de cada sorriso, cada palavra! Então ela era feliz, tão e tanto que transbordava. Agora não mais em lágrimas transbordava em êxtase!
Mas a um amor assim, não se faz exigências, não se espera troca, só ama e pronto. Quando ele se ia, tomavam seu lugar a tristeza e o grande vazio, que não era assim tão vazio porque trazia dentro de si dores etéreas e toda a consciência da fragilidade e da solidão. Rendia-se então a essa fragilidade e a solidão em troca de amar, em troca de sentir-se ela mesma, Ana, plena em todas as suas possibilidades.
No mundo real o tempo é imperioso contado em segundos e vai passando por Anna, que hora é vida, hora é angustia e segredo, hora é solidão. Não consegue revelar seu amor, nem mesmo baixinho, nem por escrito. De todos os sentimentos que têm o mais real é a covardia. Não tem coragem de revelar seu amor. Teme perder o olhar desinteressado, a risada cordial, a voz afável e receber um sorriso de escarnio. Teme perder as batidas do seu coração, a garantia de sua existência. Então, entrega ao seu amor a única coisa que realmente é sua, a solidão!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Invadir foi preciso!

Sexta feira, final de tarde, em um país onde sabidamente não se resolve nada, depois de quinta à tarde. Leio: “Sindicato dos trabalhadores em educação ocupa a secretaria de educação”. É o limite. Depois de negociações onde se propõe o inegociável, de “diálogos” onde uma das partes mais interessadas nunca esteve presente, chegamos ao limite! Em qualquer outra ocasião, situação, eu seria radicalmente contra. Mas, confesso que perdi temporariamente, espero que não para sempre, o respeito pelas hierarquias. Quando li, senti orgulho! Bati palmas! Acho justo que ocupem a sala do secretario de educação já que esta tem permanecido vazia!
O que parece que não entendem ou que não querem entender é que a regência de classe é inegociável, a greve era para implantar o piso salarial garantido por lei. Não era para “negociar”, não queremos “trocar” nada! Não há moeda de troca.
Era de se esperar que em algum momento alguma medida mais drástica seria tomada! Chegou a hora. Alguém tem que dar um basta nessa situação além da lenda. É um absurdo? É. Mas o que nessa situação toda não é um absurdo? O que fazer para sermos ouvidos?
Todas as reuniões desmarcadas, propostas ridículas, meias verdades e “verdades” inventadas ditas a imprensa. Tanto descaso, desrespeito e humilhação! Dou vivas ao Sindicato, pela iniciativa. Alguém tomou uma iniciativa, finalmente!
“E porque há direito ao grito, eu grito”... Sr. governador nós existimos, somos importantes, somos unidos. Somos pobres financeiramente? Sim, mas somos ricos em criatividade, força e coragem! Somos o seu problema e você tem que nos ver! Tem que nos ouvir e resolver! Não nos ignore, não finja que está negociando, não dialogue sozinho, não transfira suas responsabilidades!
Atitude e justiça! É isso que nós esperamos do nosso governante, eleito com o voto da maioria dos professores. Gastaram o dinheiro? Acredito. Agora não dispõem desse valor para pagar os professores? Acredito. Mas o que nós temos com isso? É problema seu! Você tem que pagar o que deve! E não são com direitos conquistados as duras penas por uma das classes trabalhadoras mais importantes e honrada e a menos valorizada.
Até acredito que a divida é do governo anterior, mas quando se candidatou e criou seu plano de governo, sabia o que estava assumindo. Sabia os riscos que estava correndo e o seu partido participou do governo anterior. Durante os dois anos em que ADIN estava sendo julgada, foi tempo suficiente para que uma saída fosse encontrada. Seu tempo acabou!
Que venha, a polícia, a imprensa para que finalmente todos saibam o que realmente está acontecendo. Que venha a policia e todos os outros funcionários públicos mal pagos e o cidadão comum cansados de injustiças e desmandos! Que venham os pais e os alunos exigirem a educação de qualidade que os catarinenses realmente merecem!