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domingo, 29 de janeiro de 2012

O controlador



Tempo...
Tenho uma implicância, uma birra, quase uma briga com o tempo. Penso que ele é muito controlador, sempre o senhor de nossas vidas. Não é atoa que não uso relógio, eu os detesto, apesar de saber imprescindíveis, mas me fazem lembram quem realmente dá as cartas e sempre vence o jogo.
Talvez, por isso eu seja tão impontual, desorganizada e alheia às horas e calendários, não por irresponsabilidade. É protesto involuntário! Uma forma de vez em quando, me iludir e pensar que sou dona do tempo, o meu tempo.
Existe uma expressão muito usada “no meu tempo” era assim ou assado... Tenho vontade de perguntar a essas pessoas, como? Como você conseguiu possuir o tempo? Nunca pergunto... Penso que vão me achar louca!
Gosto de férias... Amo... Dá-me a sensação de poder, poder sobre o tempo! Sensação ilusória, logo passa, passa rápido. As folhas do calendário caem, uma a uma, e as férias acabam. O relógio toma o controle e grita pela manhã... Acorda! Hora de trabalhar, a boa vida acabou! E fica uma sensação de que durante as férias o tempo sumiu, passou voando, e agora já de volta vem com uma lentidão pesada, uma promessa de eternidade, longos dias de trabalho, dias iguais em entediantes paredes creme, com intervalos de conversas desinteressantes, discussões que nunca levam a lugar algum, devaneios e promessas nunca colocadas em prática.
E o mais irônico é que quando nos tornamos parcialmente donos do nosso tempo, não resta quase nada, é um passo do fim, ficasse-se lá, relembrando parte da vida que já passou e esperando o tempo acabar.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Emprestador de livros

O emprestador de livros é o mesmo fazedor de rizadas, compartilhamos a graça e as viagens literárias. Nem sempre compartilho seu gosto literário já que tenho uma caída pelo épico, o romântico e ele por ficção científica além da imaginação e por gibis de heróis.
Os livros dele hospedam-se em minha casa por dias, meses, às vezes anos, moram nas prateleiras da estante, viajam pra praia, passeiam na minha bolsa, servem de apoio pro meu note (que ele não leia isso). Às vezes fico com apego, não quero devolve-los, outras não os leio por falta de tempo ou por achar ruim. Mas lendo um recado postado por ele, lembrei, que de certa forma ele fica por ai ocupando minha casa... O que é bem a cara dele.
Disse que não quer ver minha cara esse ano, pra me provocar é claro! Sou irresistível, nunca vai conseguir ficar tanto tempo assim sem me ver. De toda forma está por aqui em toda parte, a cada vez que pego um livro, lembro a quem pertence e que posso ficar mais um ano com eles.
Penso que se arrepende a cada livro que me empresta, nem ligo, continuo pedindo. É uma grande economia, muito melhor do que ter uma amiga que lhe empresta roupas. Amo a leitura, gosto do contato com os livros, e assim, posso gastar meu dinheiro com coisas fúteis, como roupas, maquiagens, perfumes, sapatos, amo esse meu lado fútil. Contrastante com a pessoa que lê bons livros e ouve boa musical Posso dizer que os livros e as músicas têm personais emprestadores. Não daria pra fazer o contrário, meu emprestador de livros não poderia me emprestar roupas, nem sapatos.
Um só sapato do emprestador de livros cabe meus pés e mãos. Já que calço 34 e ele provavelmente 44. Uma camiseta poderia ser transformada em um vestido longo, a calça vestiria dos pés a cabeça e nada me faria feliz, já que tudo é bege, cinza ou preto. Não tem laços, nem rendas, nem um coloridinho sequer. Prefiro os livros, tem ótimos, variados, do poema ao crime e posso me sentir dona deles por um tempo que eu mesmo determino.
Nessas férias meu tempo não pode ser dedicado aos livros, nem uma pagina lida de frente pro mar, nem uma noite mergulhada em uma aventura ou em um crime insolúvel. Nada! Só alguns poeminhas rápidos e algumas páginas de Clarice, isso porque os livros de Clarice (estes são meus) têm que ser lidos lentamente, refletidos, sentidos. Também não tenho dado muitas rizadas. Ando ocupada mudando os trilhos, construindo algumas curvas.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

"Viagem do Corvo"

“A viagem do corvo” é assim que minha mãe fala quando alguma coisa sai errada durante um passeio. Pois eu tive a verdadeira viagem do corvo, durante doze horas, na volta pra casa. Tão impressionante eu achei, que resolvi escrever pra não esquecer.
O trajeto era São Paulo a Criciúma, ônibus e, preciso confessar odeio mesmo viajar de ônibus. Para qualquer lugar. O horário... Noite e manhã inteira, sentada desconfortavelmente. Sentindo aquele cheiro típico de poltronas sujas, misturada com produto de limpeza, todo tipo de perfume e suor.
Horrível! Mas, nada tão ruim que acabe com as possibilidades de piorar e muito. Primeiro o ar condicionado tão gelado, que permitiria transportar sorvete sem derreter. E, por último, uma família inteira de pessoas... Hum... Não encontrei adjetivos pra descrever. Então vou descrever um a um.
A “mãe” uma mulata que mais parecia irmã, rosto bonito, cabelos alisados e vermelhos, unhas enormes, seios enormes... Tudo enorme, inclusive o tom de voz e a quantidade de sandices.
A “Tia” que era chamada de tia, mas eu poderia jurar que era o tio, também mulata, cabeça raspada, braços musculosos, de dar inveja a qualquer um, bermudas de surfista, regata, com uma barriga saindo pra fora e, de tia, tinha um par de seios que desciam até o umbigo.
O “filho”, um homem enorme, negro, que fazia questão de falar o tempo inteiro que era afrodescendente e casara com uma angolana para ter cidadania Italiana (?). De filho, tinha o tom de voz e a quantidade de asneiras da mãe.
A “amante” Flavinha, mais velha que a “mãe”, uma senhora de uma voz bonita e aparência agradável era a única de cor branca, falava pouco, com um tom de voz educada, mas com a mesma quantidade de sandices. Entre elas o hábito de cheirar acetona! Dizia ter quatro litros na mala.
“Ícaro” parecia ser sobrinho de todos, adolescente enorme em altura e peso, não falava uma palavra... Mas, seu nome era citado em todas as frases.
Provavelmente a aparência deles teria passado despercebida se eles não carregassem uma enorme quantidade de gelo e bebidas alcoólicas! Durante as doze horas que se passaram dentro do ônibus beberam dois pacotes de cerveja, dois litros de whisky com Red Bull. Quando acabaram com tudo beberam um litro de vodka com coca cola. Todos bebiam inclusive o garoto. Bebiam e contavam suas viagens pelo mundo, trabalho em casa de famosos, em um tom de quem falava para o mundo saber.
A mãe contou que perdera o emprego, porque o ator famoso com que estava trabalhando se internara em uma clinica de desintoxicação. Não quis trabalhar na casa de um jogador de futebol famoso por não gostar de crianças. No momento era babá de cães de uma socialite. A tia e o sobrinho moram na Itália. O filho e a amante... Nem vou descrever, só vou dar um detalhe, entre sandices faladas, se ouviam gemidos... Argh!
Final da viagem, a amante bêbada, que estava no banco atrás do meu ameaçava vomitar, o filho e a tia planejavam fazer um pagode ali mesmo, a mãe ensinava como fechar um baseado e o garoto roncava. Desceram uma cidade antes de mim. Todos bêbados e felizes. Eu? Fones de ouvido, som na maior altura, quase surda, com olheiras de insônia e pasma!

domingo, 1 de janeiro de 2012

Em casa!



Chove em jarros lá fora, é primeiro de janeiro e eu não ligo... Impressionante! Sinto-me bem, confortavelmente refestelada no meio de almofadas e edredom, cercada de livros e filmes e sem horário ou compromisso marcado. Fiquei horas olhando pela janela, o verde da folhagem, o verde feliz que elas exibem quando estão molhadas de chuva.
Olho pela janela deitada em minha cama, só olhando e nada mais. Fazer nada foi minha ambição de muitas horas nestes últimos dias. Posso ir pra praia, mas estava com muitas saudades da minha casa. Afinal, fiquei tão pouco tempo nela ultimamente!
Depois dormi outro tempo, que não contei, não quero ter que conta-lo. Fico feliz em não precisar saber a quantia de tempo. Deliciosa sensação de estar alheio ao tempo, de ser invisível à vida que passa lá fora.
É claro que espiei a vida lá fora, pela net, vi fotos de festas, gente feliz, li comentários reclamando da chuva, contando sobre festas maravilhosas e bebedeiras. Eu não fiz nada disso a tarde cozinhei, preparei os arranjos de fruta e depois jantar em família. Sem sofisticação, sem bebedeira, comida boa, pessoas amorosas, pessoas que amo. Dormi relativamente cedo, com o coração em paz!
A minha volta tenho meus pais, irmão, meus filhos, nora e genro, neta, e o homem que diz me amar pra sempre! Gostaria de parar de verdade o tempo, com todos eles, assim, pertinho. Enquanto não me é possível controlar o tempo, absorvo esses momentos e guardo as imagens, os sons, os cheiros, os abraços em uma gaveta na minha cabeça com a inscrição: “FELICIDADE, abrir e rever sempre”.