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sábado, 30 de junho de 2012

O que é o que "era"?

Brincar de roda gira e gira de pés descalços sob um céu lindo e estrelado,
Escorregar pela lombada coberta de grama em uma canoa de coqueiro,
Comer fruta do mato, bacupari, ingá, gabiroba, mexerica, araçá e goiaba.
Ficar por horas deitada na grama ao sol vendo os desenhos nas nuvens,
Colecionar tampinhas, figurinhas e conchas do mar.
“Construir laboratórios secretos” de bambu coberto de folhas de coqueiro,
Cozinhar em um fogão feito com dois tijolos e uma chapa feita de lata,
Construir jangadas de bananeira,
Nadar no rio até ficar enrugado.
Transformar o galinheiro em um teatro e a camisola da mãe em vestido de gala.
Ter primos pra compartilhar as aventuras,
Tias pra ninar, pentear, mimar e te fazer sentir-se importante,
Avós pra contar histórias e cantar antigas cantigas,
Irmão pra cuidar, brigar, rir e amar,
Pais para lavar os pés encardidos, curar os ralados, tratar resfriados, distribuir tarefas, limites, palmadas, responsabilidades e muito, muito amor!
Isso se chamava Infância Feliz!

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Cabelos e lendas

Meu cabelo está de um jeito que não tem jeito. Irritado, nervoso, teimoso, não acha lugar certo pra ficar! Fica se espalhando tomando conta. Ele que sempre foi reflexo da minha personalidade, agora está justamente ao contrário. Eu quero mais é ficar quietinha, passar ao largo sem ser vista, não quero discutir, nem teimar, queria mesmo dormir um sono de Bela Adormecida.


Minha princesa preferida sempre foi a Bela, a princesa intelectual que se apaixona pela fera, mas meus cabelos sempre Rapunzel, cabeleira de fogo, fio grosso, dá mesmo pra fazer uma corda, mas agora eu queria mesmo era ser Aurora, espetar meu dedo e dormir, dormir, dormir... Mas, nem Bela, nem Rapunzel e muito menos Aurora.

Tenho tido tão pouco tempo que leitura é algo raro, ser intelectual então passa ao longe! Os cabelos nem mais de Rapunzel, ultimamente teimam em crescer em direção ao céu e Aurora? Quem me dera! Dormir é luxo!

Essa vida que me leva é de plebeia e os contos de fada hoje são contos de fardos!

domingo, 10 de junho de 2012

Por favor, não esperem tanto de mim!

O mal é esperar das pessoas aquilo que elas não têm nem mesmo capacidade de entender. O difícil é fazer-se entender pelo olhar, sem precisar gritar por socorro! Dói viver! Dói o acordar todos os dias e enfrentar a vida. Fazer tudo o que esperam de você, sem falhas.
Talvez seja essa a culpa, esperar que alguém veja, entenda que não é mais possível! Não é mais espontâneo o ser feliz! O riso já não está sempre pronto, tudo parece tão morto em algum lugar. É difícil entender-se só, difícil saber que a pessoa que os outros esperam não está mais em você. Que você faz um esforço imenso para não errar, mas que não consegue mais!
Não há fórmulas químicas, não há! Exercício infinito de acordar e procurar-se em algum lugar, procurar um motivo pra enfrentar, sorrir e distribuir sorrisos, quando a sua vontade e na verdade ficar ali, parada, trancada dentro de si, tentando reviver. Tentando viver sem dor!
Talvez deva fazer uma troca da culpa pela coragem e gritar aos berros toda dor, gritar os egoísmos com os quais convive, gritar pra si e por si:
Por favor, não esperem tanto de mim!



sábado, 9 de junho de 2012

Melhor assim!

Alguém me disse outro dia que não sou uma feminista, sou uma lady. Não sei! Pensando bem, ladys não usam pantufas em formato de porcas, nem pijamas enormes, não andam descabeladas, não riem até chorar, não xingam... É certo que não falo gírias, sei bordar e fazer todo tipo de trabalho manual, sou dengosa e toda fresca. Mas, definitivamente sou opiniosa, teimosa, birrenta, dramática demais para uma lady.
Feminista? Claro que não! Jamais abriria mão de um lindo sutiã de renda, ganhar flores, bombons, pintar as unhas, usar saltos. Nem ligo que paguem toda conta, alias, acho ótimo. O que não gosto é de injustiça! Mas as regalias de ser mulher eu curto.
Lady ou feminista? Nem uma, nem outra, penso que sou um alien. Sempre acreditei que não sou desse mundo. Sou mulher, feminina até a raiz e forte o quanto é preciso. Não há moldes, não caibo em um conceito!
Melhor assim, conceito sobre pessoas parecem receitas de chá ruim!



quinta-feira, 7 de junho de 2012

Tempo Sem Tempo (Mario Benedetti)





Preciso tempo necessito esse tempo
que outros deixam abandonado
por que lhes sobra ou já não sabem
o que fazer com ele


tempo
em branco
em vermelho
em verde
até castanho-escuro
não me importa a cor
cândido tempo
que eu possa abrir
e fechar
como uma porta


tempo para olhar uma árvore um farol
para andar pelo fio do descanso
para pensar que bom hoje não é inverno
para morrer um pouco
e nascer em seguida
e para me dar conta
e para me dar corda
preciso tempo o necessário para
chafurdar umas horas na vida
e para investigar por que estou triste
e acostumar-me ao meu esqueleto antigo


tempo para esconder-me no canto de algum galo
e para reaparecer em um relincho
e para estar em dia
e para estar na noite
tempo sem recato e sem relógio


vale dizer preciso
ou seja necessito
digamos me faz falta
tempo sem tempo

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Não cabe!

Compras!
Eu adoro e meu irmão é o companheiro ideal! Fomos às compras, ele é o chefe paga e eu a compradora, compro. Primeiro na floricultura, vasos, bambus, trepadeiras, palmeiras, algumas caixas de flores para jardim. Ele em volta, “é muito não cabe”. Eu: cabem, divisores e grama? Nem pensar muito pesado. Tudo bem muito pesado fica pra outra vez! Alguns vasinhos de parede, essenciais! Tudo bem estou contente, encerrei... Pode pagar.
Agora loja de departamento, ferramentas, precisamos de ferramentas para jardim, essa bandeja de vidro, o preço é bom! Um cobertor preciso de um. Esses vidros azuis para velas fazem um lindo efeito, vamos levar. Quantos? Huum... Pelo menos para dezesseis mesas. Feito.
Meu Deus falta à vela! Preciso comprar uma vela pra próxima festa, corrida por uma vela. Mais umas flores, dois vasos, vasinhos de madeira, baldinhos de metal, faltou o papel rococó.
Atacado de artigos para presentes, manter o foco! Vidros! Ah... Mas essa galinha é muito simpática, esse boneco de metal na bicicleta vai fazer um efeito lindo, e esse vaso? Podemos trocar esse horríveis fios dourados por falsos cristais. Esses galhos com pérolas estão divinos, bandejas de vidro, vamos levar! E os vidros? Quantos? São dezessete taças altas e dezessete médias. Umas velas, bomboneras ou bombonier... Ele, com um moletom no braço: Não cabe! Eu agarrada a uma galinha... cabee! Tudo bem acabei, estou cansada, com fome, pode pagar!
Todos na fila nos odeiam posso sentir! Três carrinhos e muitas caixas de vidros. Moço preciso de jornal, muito jornal, essas caixas não cabem no carro. Enrolar vidros com jornal é chato, os dedos ficam pretos, você toda fica preta!
Não quero amassar as flores tiro tudo do carro e coloco em volta, com todos os vidros por ali também. Os vasos de barro, bambus e outros arbustos, não... Ficam onde estão. Percebo que é a vingança das pessoas que estava na fila, passam, param e olham, com aquela cara “não cabe. Louca!”.
Lá vem meu irmão com a nota na mão, ainda espantado com o valor, vê aquilo tudo em volta do carro e me olha... Eu? Dou rizada, tanta, tanta, de escorrer lágrima... Finalmente ele ouve a frase que queria, entre gargalhadas, falo: “não cabe”!
Enfim, uma camada de arbustos rodeada de vasos de barro, uma camada de vidros envolvidos em jornal, uma camada de papelão coberto por caixas de muda de flores! Ficaram os vidros azuis, as bandejas de vidro, os galhos com pérola e um vaso enorme de vidro! Bandejas e vidros aos meus pés, sobre eles, entre eles, galhos em meio às folhas de bambu, as bandejas entre minhas pernas e o vaso no meu colo. Coube tudo! Até o motorista! E eu ainda consegui mover os olhos e a boca que teimava em rir sem parar!




terça-feira, 5 de junho de 2012

Insatisfação

Desejo não satisfeito se renova e torna-se intenso, denso, quase palpável. Vai e volta ao pensamento, sem controle, quando bem quer! Quando nos damos por conta, tá ali tomou conta!
Aquece, tempera, dá vida, acorda aquilo que fica adormecido, quietinho em estado latente! Espiando, esperando uma frestinha. Então escapa! Tantas e tantas vezes... É um desejar, aquecer, calar!
É bom saber-se vivo! Sentir-se não tão dono de si, ficar meio a mercê dos sentimentos. Faz bem saber-se humano incapaz do domínio absoluto de todo o seu ser. Satisfazer um desejo guardado, então, é como encontrar um baú com objetos sonhados! Os olhos mudam de cor quando de posse do que é desejado.
Enquanto isso, um bom vinho, uma linda musica e a imaginação flutuando...