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domingo, 2 de dezembro de 2012

Cabelos em pé!

Nada na minha vida foi fácil ou simples. Desde o dia em que nasci. Segundo minha mãe a doparam e ela não me viu nascer, mas meu pai conta que eu era um bebe cianótico que havia passado trabalho para nascer, “parto normal”.


Nasci pobre, meus pais eram bastante jovens viviam de aluguel e de subempregos. Fui um bebe lindo, sorridente e gordinho de cabelos em pé. Minha infância foi pobre, cercada de muito amor e mimos de tias e avós. Meus pais batalharam durante todo o tempo em que minha lembrança alcança. Cresci magrela, sorridente e de cabelos em pé.

Sempre amei dezembro, e esse mês lembra-me especialmente a casa de minha avó Rubia, onde tinha um cheiro de resina de pinheiro, bolas de vidro fininhas e brilhantes e ninhos de barba de árvore aos pés do pinheiro. Lembro-me dos vestidos novos que minha mãe fazia pra mim, da boneca Rita que ganhei da “dinha” Eloá, até de um triciclo verde com os símbolos do zodíaco, que meu pai jurava que o Papai Noel havia deixado em casa. Lembro perfeitamente dos hinos de natal, meu avô ao piano e das apresentações na igreja. Tenho uma foto vestida de anjo em um presépio vivo, um anjo de cabelos em pé.

Os natais não eram ricos, não havia muita comida, nem tantos presentes, havia visitas em camas espalhadas pelo chão, havia brincadeiras até mais tarde, havia uma emoção que se podia sentir pelo ar. Eu tive natais ricos de fé e amor, amo o natal!

Mais tarde o natal passou a significar ficarmos sem minha mãe, que era plantonista no hospital, não havia ceia, íamos ao culto eu, meu pai e meu irmão bebê em uma bicicleta verde de rodas imensas. Gostaria de ter ainda aquela bicicleta! Depois passávamos no hospital pra ver minha mãe. Nesse tempo já tínhamos casa própria e minha mãe fazia pastel e torta recheada de pêssego e comprava um engradado de guaraná de garrafa. Pra mim eram iguarias! Sempre senti falta da árvore de natal, na minha casa nunca teve.

Virei adulta e como meus pais tive filhos ainda jovem e foi trabalhoso mantê-los alimentados, vestidos, saudáveis de corpo e espirito. Apesar de pouco dinheiro, sempre tivemos uma ceia de natal, uma árvore com presentes. A árvore era um galho de pinheiro e os enfeites feitos de papel camurça. Não sou muito de ir a igreja, os cultos não são mais na véspera e sim pela manhã, sou dorminhoca e Deus sabe. Mas consegui durante a minha vida, que repito não foi fácil, manter aquele sentimento de criança! Ainda amo dezembro.

Estou envelhecendo, continuo sorridente e de cabelos em pé, hoje domados pela química. Sou avó e tento repetir e repassar a minha neta o verdadeiro significado do natal. É claro que com luzes, árvore, enfeites, presentes, ceia e tudo que o mundo do consumismo vende como felicidade. Ainda é difícil a vida, nada vem fácil, minha teimosia me impulsiona e me mantém.

Dificuldades atrapalham, fazem sofrer, envelhecem, diminuem nosso tempo, mas não nos impedem de ser feliz! Ser feliz também não nos impede de chorar de sentir tristeza e dor. Ser feliz pra mim, conceito particular, é fazer uma leitura da vida que temos e conseguirmos tirar dela o máximo. Faz parte da nossa felicidade, vermos os nossos, felizes. Nem que para isso precisemos engolir o choro, trabalhar até o limite e o principal nunca esquecer o que realmente tem valor, estarmos juntos.



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