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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Senhor Tempo!

Ultimamente o que menos tenho é tempo. Gostaria de encontrar um baú cheio de tempo, mas tempo, livre, novinho em folha prontinho pra ser usado do jeito que quiser! Ultimamente o tempo que encontro está todinho ocupado, gasto, planejado a maioria com trabalho e ocupações chatas.
Nunca mais uma espiada pelas janelas da casa amarela, olhadelas nos canteiros do meu minúsculo e amado jardim, nunca mais um bate papo com meus cactos da floreira, nem com a sabiá, minha nova vizinha, que está a espera de seus bebes ao lado da minha cozinha.
Nada de brincadeiras ou conversas filosóficas com a menina do telhado, nem caminhadas ou jogar conversa fora com as pessoas de quem gosto. Tantas idéias para serem escritas, minha cabeça tem um trem delas! Queria escrever sobre todas!Então, vou fazer uma espécie de colcha de retalhos e escrever recortes daqui e dali.
Tive pedacinhos de tempo interessantes essa semana, fiz um lindo canteiro de flores com os alunos, estamos monitorando um casal de quero-quero que fez ninho no jardim da escola, chamam-se Genoveva e Pietro! E tive conversas divertidas com os alunos. Descobri que um deles quer ser entregador de pizzas intergalático!
Semana que vem meu melhor amigo, meu irmão tão querido vai se casar! Irá embora da ilha verde, já estou sentindo muita falta, ele é a melhor companhia, melhor parceiro de loucuras, a pessoa mais paciente para levar as compras e um ótimo adversário nas brigas! Preciso confessar que a ida dele me entristece... Só um pouquinho, um ladinho assim, egoísta! O restante de mim está muito feliz, porque ele está feliz! E encontrou uma pessoa tão especial quanto ele!
É bem provável que com o casamento de um dos habitantes da ilha verde, o tempo que já é pouco ficará ainda menor, tantas as providências para que tudo seja perfeito! E o senhor tempo, espero, passará mais lentamente nos momentos mais felizes!


domingo, 25 de setembro de 2011

Não Fales Alto.

Não fales alto que isto aqui é vida —
Vida e consciência dela,
Porque a noite avança, estou cansado, não durmo,
E, se chego à janela
Vejo, de sob as pálpebras da besta, os muitos lugares das estrelas...
Cansei o dia com esperanças de dormir de noite,
É noite quase outro dia. Tenho sono. Não durmo.
Sinto-me toda a humanidade através do cansaço —
Um cansaço que quase me faz carne os ossos...
Somos todos aquilo...
Bamboleamos, moscas, com asas presas,
No mundo, teia de aranha sobre o abismo.

Álvaro de Campos

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Peter Gabriel - mercy street

TOSCA - G. PUCCINI - E Lucevan Le Stelle

Sem descrição.

A primavera oficialmente se iniciou! Como se fosse possível controlar assim as estações! Mas... Para nós humanos controladores, hoje é o início da primavera! E ela, como forma de protesto veio assim, com um amanhecer cinzento e uma tarde chuvosa e fria. Parece dizer, quando eu quiser eu chego, solarenga, morna, cantante, colorida... Hoje não. Não estou afim, hoje quero chover!
Também não estou assim, primavera, ainda estou invernal! Também queria chover... Mas há uma completa ausência de sentimentos em mim, uma falta de motivos e vontades. Preferia estar triste, parece mais nobre ser triste! Ser vazio é... Vazio, não tem nem mesmo descrição!
Meu dia, normal como todos os outros dias, trabalhos domésticos, conversas com a família, trabalho formal, colegas de trabalho, piadas no corredor da escola, brincadeira com os alunos, sorrisos... Tudo assim, vazio, imperceptível aos olhos de quem me vê. Acho que esqueci meu EU em algum lugar... Não lembro onde! Ando por ai... Uma carcaça vazia, fingidora sem seu EU!
Esperei tanto pelo fim do inverno e agora não me encontro... Pra comemorar o verde novo da ilha, as flores pipocando aqui e ali, o namoro dos pássaros e os dias azuis! Também preciso chover, e encher esse vazio com uma tristeza infinita e uma enxurrada de lágrimas forte e intensa que carregue todo o inverno da minha alma, que agora é cinza da cor do vazio! Assim, talvez, meu EU volte esfuziante com toda a cor!


segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Gavetas de vida.



Gosto de gavetas, nelas encontro partes da minha vida em cartões, fotos, objetos esquecidos. Organizo quase tudo em gavetas, louça, panelas, talheres, fotos, roupas, sapatos... Minha vida também é organizada em gavetas de sentimentos, ressentimentos, amores, sabores...
Organizar em pastas seria mais moderno, mas gosto das gavetas! Tenho sempre a impressão que nelas há um mundo a parte. Aparecem objetos perdidos, misturam-se objetos e tem nosso cheiro lá. Gosto do meu cheiro e gosto de senti-lo em minhas gavetas.
Devia organizar minhas memórias em pastas, mais prático, mais moderno, mas não! Prefiro, elas, as gavetas. Em cada uma cabe exatamente o que eu quero e guardam os meus segredos, lembranças, inspirações!
Ultimamente as gavetas da casa amarela refletem as gavetas da minha cabeça e da minha vida, estão uma bagunça, tudo misturado. Parece que os objetos tomaram vida e saem por conta de uma gaveta pra outra, pra confundir! E os pensamentos! Lotam gavetas que já não fecham e ficam zanzando pela noite, desfilando em forma de preocupação. Os sentimentos Esses são os piores, alguns se perderam no fundo de alguma gaveta e já não os encontro, enquanto outros teimam em sair esse exibir pelos meus olhos o tempo inteiro.
Um tempo, é isso que preciso um longo tempo só! Pra organizar as gavetas da casa amarela, da minha cabeça e da minha vida. Enquanto não tenho esse tempo vou vivendo com tudo misturado em uma louca confusão de meias sem pares, xícaras sem pires, dores sem remédio, sentimentos e pensamentos soltos... Gavetas lotadas de vida, saudades e dúvidas!

sábado, 17 de setembro de 2011

Bem-me-quer

Caminho de volta, uma música qualquer, toca. Um ar morninho entra pela janela do carro e um uma paisagem salpicada de margaridas-do-banhado guiam até em casa. As montanhas! Sempre fico sem ar quando as vejo! Elas me trazem a certeza, em casa, estou em casa!
Os pensamentos voam durante a volta, tão e tanto que não os alcanço!
De volta à ilha verde, à casa amarela onde um bom café me aguarda. Tem um restinho de sol e não faz frio, as laranjeiras em flor e o verde novo me convidam! O inverno se despede, é mais fácil ser feliz na primavera!
De volta as folhas, as cores, os insetos, os pássaros o calor, a vida! As margaridas-do- banhado que estão espalhadas pelo caminho de volta, me contam, estou de volta e a primavera também! Elas tem o número exato de pétalas para o bem-me-quer!

domingo, 11 de setembro de 2011

Antes que o inverno acabe!

"Fazedor de Risadas"

Tenho um amigo grande, bem grande! Que por coincidência, sei lá, também é um grande amigo! Ele compartilha o mundo a parte e as observações próprias que tenho. Partilha o amor pelos animais... Preciso contar que o amor dele é meio estranho, tem um jeito meio “Felícia”. Todos os animais de estimação dele fogem ou morrem!
Já tivemos momentos únicos, como a morte do Gasparzinho. Só mais tarde descobrimos ser apenas uma sacola plástica branca “atropelada”... E, só muitas rizadas depois, lembramos que Gasparzinho já é morto! Eu limpei o forno onde ele transformou os biscoitos em plástico. Juntos, criamos o primeiro colar de olhos humanos (recorte de revista, não se apavore!).
Trocamos livros, músicas, filmes, ideias. Criamos poemas (péssimos), gravamos poemas que na verdade serviram pra muitas risadas. Todos aqui na ilha verde gostam das suas visitas, raras ultimamente. Quando veio a ilha verde pela primeira vez, minha mãe o recebeu com um suco de abacaxi. Olhou pra ele e disse, “nossa! Como Você é grande! Mas, ali perto do portão tem um duto subterrâneo enorme, eu podia esconder teu corpo ali. Caso eu tivesse envenenado teu suco, claro!”. Depois de afogar, tossir e conhecer minha mãe gostou dela!
Temos tantas histórias, que daria para escrever um livro. Só de maluquices! Não me permitiu citar seu nome, e me fez jurar que teria “decoro” ao escrever! Exigiu que criasse um pseudônimo. Pensei em vários, verdes, gosmentos, engraçados... Mas, escolhi ”Fazedor de Rizadas”, que é isso que ele faz, me faz rir!

sábado, 10 de setembro de 2011

Pastor de Estrelas Mortas

Conheço um pastor, diferente de todos os outros pastores! É um Pastor de estrelas mortas.
Mora muito, muito, distante daqui e vive solitário e mal humorado. Pode-se dizer que tem um mau humor de um urso faminto. Fica lá observando suas estrelas mortas, sempre à distância, ele não as vê, não as conta. Imagina e calcula a sua existência. Dia e noite entre contas, gráficos o seu estranho rebanho.
Acho poético calcular “sei lá o que" das estrelas mortas, as mesmas estrelas do meu céu aqui da minha ilha verde. Pra mim são estrelas que ainda brilham, e não só recordações de estrelas que já se foram. A matemática das estrelas que me interessa é só aquela antiga e infantil de apostar quem conta mais estrelas.
Não gosto de lembrar que muitas das estrelas que vejo agora estão mortas. Isso me faz pensar na finitude de tudo o mais... Preferia acreditar que estrelas são infinitas, impossíveis de contar e que infinita é a sua vida.
Pulsares! Lindo o nome pelo qual algumas estrelas mortas são conhecidas. Antagônico até, pulsar lembra vida! Vida pulsante, coração! Um pulsar é uma estrela de nêutrons girando rapidamente, o que corresponde ao coração de uma estrela massiva que explodiu desmoronou como uma supernova no final da vida.
O pastor de estrelas mortas ouve Jazz, será jazz a música das estrelas? Sei que sua música rivaliza com a das baleias. Que em seu interior reverberam fragores, trovões sibilam agudos lamentos que formam uma sinfonia de sons. São essas ondas acústicas que fazem com que as estrelas se comuniquem umas com as outras permitindo que ela encontre o estado de equilíbrio. São as ondas acústicas responsáveis pelo tamanho, forma e brilho, assim, ela compensa a energia que escapa continuamente de sua superfície.
Pensando, aqui observando o céu, talvez o urso mal humorado não seja, na verdade, um pastor de estrelas mortas e sim um maestro!


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Janelas!



Das janelas das casas na ilha verde pode-se ver tanta natureza! Na casa mãe, na janela da cozinha, tem sempre frutas e ali vemos pássaros que comem sem a mínima cerimonia. São de cores diversas, irrequietos, barulhentos e gulosos. Quando chego do trabalho é por ali que espio pra ver se está tudo bem, coisa de filha!
Das janelas da Casa do telhado, a vista é privilegiada, lá do alto vemos todas as montanhas e as copas das árvores. E através delas, as risadas da menina que mora ali no telhado chegam ao meu coração.
Pela janela da casa amarela, se vê o rio, a floreira com a coleção de cactos, as laranjeiras em flor... E por ali, vejo os filhos chegando, entram suas risadas, o assobio do meu pai, o martelar na velha sapataria! Vejo a fumaça da chaminé do fogão à lenha e sinto o cheiro do pão quentinho.
Pela janela o sol espia minha sala e me aquece no inverno e por elas que o som mágico do quarto dos vinis se liberta e ganha espaço. Por ali minha mãe espia pra dentro da minha casa, pra ver se está tudo limpo! Coisa de mãe!
Minha alma também tem janelas, quase todas, abertas pra espiar o mundo!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Bocejo.

Chove
Tem um barulhinho bom no telhado
Um friozinho tolerável
Um silêncio de outros barulhos
Só pingos e sabiás.
Perfume de flor de laranjeira lá fora
Chá de flor de laranjeira na xícara
Tudo a meia luz natural,
Bocejo
Meu sono voltou pra casa!



domingo, 4 de setembro de 2011

Uma Pequena História de Amor

Hugo e Ana

Charlote


Na entrada da casa amarela tem um canteiro, onde normalmente planto boca-de-leão. Como moro no meio de muitas árvores, é preciso de vez em quando tirar as folhas que ficam em meio ao canteiro para que elas não sufoquem as plantinhas. Limpando esse canteiro, em um grande susto, descobri uma moradora, uma aranha avermelhada... Figura ameaçadora!
Não posso deixar de contar um detalhe... Por muito tempo tive fobia de aranhas, de todos os tamanhos e cores, e também das teias. Fobia só superada após aulas de zoologia, onde fiquei meses, debruçada sobre livros e aranhas (em espécie) estudando-as, no curso de Biologia.
O medo foi substituído por admiração, respeito e cuidado. Passando o impacto desse primeiro encontro, passamos a ter um relacionamento de mútuo respeito.
Então, depois do susto, passei a limpar o canteiro com luvas, delicadamente empurrava Charlote, pra lá e pra cá. Não falei? É, dei nome a ela, achei que charlote é um nome bem apropriado para uma aranha tão sofisticada, vestida de veludo vermelho.
Atrevida, Charlote não se contentava em ficar só no canteiro, subia pelas paredes da área para se alimentar a noite. Pela manhã sempre estava por ali, com aquela preguiça de aranha. Pacientemente eu a empurrava de volta para o canteiro. Pessoas não costumam ser muito simpáticas com as aranhas, era melhor pra ela, ficar no canteiro escondida.
Resolvi fazer uma faxina, chamei uma mulher para lavar as janelas, paredes e forro, que depois do inverno costumam acumular poeira e mofo. Ela ficou em meio a baldes vassoura e bolhas de sabão enquanto eu fui para as minhas aulas. Ao chegar fui recepcionada com um grande sorriso, e a mulher se achando a maior heroína, contando que havia encontrado no canto da parede uma aranha terrível, venenosíssima!
A surpresa: Lá estava Charlote! Esmagada no chão... Seu lindo vestido aveludado e vermelho todo rasgado e algumas de suas “pernas” elegantes espalhadas em volta. Fiquei tão triste! Peguei aquele corpinho em migalhas e coloquei de volta no canteiro! Adeus Charlote!
Não preciso contar que atrás de mim havia um par de olhos esbugalhados que pareciam dizer: Maluca!

sábado, 3 de setembro de 2011

RESUMO

Resumindo
Digamos que oscilamos
Entre alegria e tristeza
Quase como dizer
Entre o céu e a terra
Ainda que o céu de agora e o de sempre
Se ausente sem aviso

As ideias vão se tornando sólidas
Sensações primárias
Palavras ainda em rascunho
Corações que batem como máquinas
Serão nossos ou de outros?
Este choro de inverno não é igual
Ao suor do verão

A dor é um preço/ não sabemos
O custo inalcançável da sabedoria

Pensamos e pensamos duramente
E uma paixão estranha nos invade
Cada vez mais tenaz
Mas mais triste

Resumindo
Não somos o que fomos
Nem menos do que fomos
Temos uma desordem na alma
Mas vale a pena sustentá-la
Com as mãos/ os olhos/ a memória

Tentemos pelo menos nos enganar
Como se o bom amor
Fosse a vida

(Mario Benedetti)


sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Contos e contas!

A menina que mora no telhado vem de vez em quando na casa amarela, bater um papo. Falar sobre as suas observações da vida, resolver seus porquês e fazer pedidos. Senta no sofá encruza as pernas e vai falando, com a carinha mais séria do mundo, e aquele olhar de quem sabe muita coisa sobre os mistérios da vida, de quem a qualquer momento vai lhe dar uma lição.
De presente quer uma varinha de condão, do tipo que faz vestido, mas não uma varinha de brinquedo, uma de verdade! De brinquedo ela já tem. Enquanto a varinha não vem, quer um lindo vestido de princesa e pra isso tem uma conta, que ela diz ser um botão especial para vestidos de princesa. Um vestido assim, como uma flor, branco, brilhante que flutue quando ela dançar. Pronto, se já temos um botão. Todo o resto está resolvido! É só dormir, quando acordar, o vestido estará pronto! Não sabem?!? É assim que acontece, caracóis mágicos fazem o vestido, enquanto as princesas dormem.
Suas maquiagens são um arraso! Ela tem vários batons, um de comer, outro de comer só um pouco e outro que não pode comer porque dói a barriga. E agora ela quer unhas decoradas com flores, mas tem que ser flores com cabinhos...
Ultimamente tem andado preocupada e um pouco triste porque o tio-avô, vai se casar. Ela não quer que ele vá embora da ilha verde. Porque se ele for embora quem vai brincar? Ao mesmo tempo está ansiosa para o casamento, afinal, pretende arrasar em sua performance como daminha. Assistiu a todos os vídeos disponíveis na internet, ensaia incansavelmente, já escolheu o vestido e diz com toda propriedade: Vou ficar linda!
Anda com cuidado pela ilha, porque tem medo do galo carijó, porque como ela diz: “ aquele galo ainda não a conhece e pode querer come-la”. Ela come galos "fritados”, mas só as coxas e o galo quer comer tudinho a bicadas! Põe a mão no peito e diz: “Medo cocó”.
Vai para escola de skate com o pai, e acha um absurdo que nós não saibamos andar de skate, já que é tão fácil e ela prontamente se oferece para ensinar quem estiver disposto a ser seu aluno! Mas agora, precisa ir... Não pode mais ficar a mãe está chegando e não vai saber onde ela está! Volta outra hora, porque precisa falar algo muito importante!
Fico aqui, no mundo real... Ela leva com ela para o telhado, as fadas, as princesas, a fantasia, a graça...