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domingo, 6 de janeiro de 2013

O corpo

Seus olhos eram tão profundos que era impossível definir a cor, neles só se via refletido a cor daquilo que neles se refletiam. Ela não falava, não porque não tivesse voz ou sentidos perfeito, estava perdida a sua voz entre seus devaneios. Viera para a aldeia com Francisco, pescador calado, rude nos modos, mas sensível a quem o observa. Contava ele que a havia encontrado no continente quando fora comprar mantimentos, que estava lá, perdida entre feirantes, mantimentos e seus próprios pensamentos. Desde então, vivia com ele, cuidava da casa e andava pela praia, catando conchas e madeira trazidas pela maré durante a noite. Com certeza ela não podia ser definida como bela, alguma coisa nela, seu andar ou a harmonia de tudo nela era atraente de uma forma sútil. Chamavam-na de Arila, porque Francisco assim a chamava e ela atendia sorrindo, como se concordasse em ser.
Costumava ficar horas sentada de frente ao mar, ou deitada na areia com a brisa do mar batendo em seu rosto o sol se espalhando em seu corpo. Ali as suaves mãos lhe acariciava o rosto, erguia o vestido, acariciava lhe o corpo e aquecia suas pernas. Eles se amaram ali, na areia, simplesmente, quase primitivo eram seus desejos. Banhava-se no mar e voltava pra casa. Francico chegaria logo.
As flores do vestido espalhavam-se pelos canteiros e em cestos pela varanda. Seu cheiro se confundia com o cheiro do mar. Francisco era feliz.
Muitos por e nascer do sol. Tarde morna e ela deita-se na areia seus cabelos espalham-se ao vento e a saia do vestido brinca com o vento. Uma sensação morna a embriaga e novamente aquele corpo jovem deita sobre o seu. Amam-se lentamente dessa vez. Ela pode sentir o roçar da barba,o corpo jovem, as mãos fortes em sua nuca, as pernas fortes que prendem as suas e o calor que se espalha por todo o corpo. A voz calada se solta em gemidos baixos e suaves. Ao abrir os olhos estes refletem os de Francisco que a olham como se fosse a primeira vez. Atordoada  segue, então, pela praia de mãos dadas com Francisco em silêncio.
Cedo os pescadores os chamam até a praia, tem um corpo, na areia. É um homem jovem, tem um rosto bonito sereno, a boca é levemente curvada, sob a barba. Seus olhos levemente abertos, como se estivesse acabado de acordar, eram escuros e profundos. Não apresentava nenhum ferimento. Sua mão estava fechada. Ao abrirem cai dela uma concha. Francisco com olhos atormentados, que só Arila em seu silêncio triste vê, pega para si a concha e põe distraidamente no ouvido. Não não ouve o som do mar, nela podem-se ouvir gemidos baixos e suaves.






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