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domingo, 12 de fevereiro de 2012

Pedro


Eu vi o piano, outro dia, assim sem querer... Foi como entrar na máquina do tempo, encontrei Pedro, sentado, ombros curvados, as mãos calejadas envelhecidas, dedilhando as teclas e dela tirando sons. Som de amor e fé. O cenário do piano hoje não é o mesmo, ele está velho, mudo, como se em protesto. Sente também a falta de Pedro.
Pedro e seus ralos cabelos brancos, olhar sábio e infinito, sobrancelhas cerradas e de rara fala. Pedro das brincadeiras, escondendo meu doce na hora do café, das cestas depois do almoço, ficava tonto quando bebia refrigerante.
Pedro que dava vida aos sapatos velhos, que sabia muito de geografia, que ficava horas admirando os céus.
Durante a viagem no tempo revi a cadeirinha verde de atear o fogo pela manhã, revi sua chegada com um feixe de lenha, um torrada de café, um balde de bacupari. Ouvi seus bufos durante o sono da noite, quando dormi junto a eles no quarto. Revi todo o amor nunca falado ou demonstrado com exagero, mas sentido no ar.
Ouvi o som do dedilhar no violão depois do café, e o som da sua voz ecoando na minha infância quando vinha a minha casa, minha mãe cortava seus poucos cabelos, “sinhá Dirça, corta meu cabelo?”.
Tive uma vontade imensa de colocar o piano nas costas e trazer pra casa, mas ele não está lá, Pedro se foi. O piano, aliás, nem é um piano, é um órgão, emudeceu, é apenas uma decoração agora. De Pedro tenho outras heranças, o amor, a honestidade, a simplicidade, o exemplo e um grande orgulho de ter compartilhado sua musica, seu sorriso e seu silêncio.
Quem é Pedro? Seu Pedrinho Muniz, o sapateiro, tocava órgão na Igreja, foi casado com a Dona Rúbia com quem teve uma família numerosa, que se ama muito. Homem muito sábio e honesto, humilde, de um coração puro, sem ambição nem vaidade, fiel a sua fé. Pedro Muniz dos Reis foi principalmente meu avô!

Um comentário:

  1. e eu aki através desta tela, do teu olhar, relembro com saudade seu Pedro e me comovo (como sempre) e tudo o a a memoria tras: ele sentado e tocando o velho orgão, o riso baixo e abafado diante da algazarra da familia reunida... obrigada por este relembrar saudoso.

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