Mais uma segunda sem aulas,
Mais uma semana em greve, não questiono jamais a legalidade da greve! Legal não no sentido de lei, legal no sentido jovem, de ser uma luta “maneira”. Sempre soube que teria perdas, que não há vencedores reais em uma luta como essa. Descontos, ameaças, eu, apesar de novata em greves, já esperava.
De uma hora pra outra percebi que cidadania não existe e lei é só um vocábulo, só existe pra alguns. Não me sinto uma fora da lei como grevista, nunca me senti tão em meu lugar em toda a minha vida. Não acredito que estou fazendo mal aos meus alunos, tenho certeza de que aqueles que são estudantes de verdade estão torcendo pelos professores e tem a real compreensão do que está acontecendo. Os pais estão preocupados sim, do contrário não seriam bons pais.
Uma confusão de sentimentos já passou pela minha alma, orgulho, êxtase, tristeza, cansaço, indignação... Mas, jamais culpa ou dúvida de não estar agindo corretamente.
Escrevi hoje em resposta a um artigo que questionava o porquê não voltávamos à sala de aula, se não era o momento de pensar menos em nós e mais nos alunos. Respondi, não volto porque não posso! É verdade. Não posso, não posso voltar como se estivesse voltando de férias, e continuar a minha aula exatamente de onde parei! Não! Não, tudo mudou! O tempo não é mais o mesmo, eu não sou mais a mesma! Para voltar, preciso acreditar no que falo aos meus alunos, preciso me acreditar cidadã!
No momento não me sinto cidadã, me sinto iludida, roubada, lesada nos mais sagrados dos meus direitos, inclusive no direito ao voto! Sinto-me humilhada ao ver minha pobreza salarial ser usada como arma pra me forçar a voltar pra sala de aula! Um nó me sobe a garganta quando leio a situação dos meus colegas ACTs! Ser ACT deixa marcas, nunca mais essas cicatrizes desaparecem e elas doem quando vejo o que eles estão passando agora! Essa é a aula de cidadania recebida do nosso governo, somos massa de modelar que em suas mãos transformam-nos em tristes bonecos e somos jogados nas escolas pra virarmos cumpridores de horário, para que a sociedade acredite que a normalidade voltou!
E quanto ao fato de pensar mais nos alunos e menos em mim, Não dá. Não mesmo! Há momentos em que para sobrevivermos o egoísmo é necessário! E esse é o momento. Preciso pensar em mim! Porque ninguém mais pensa! Nem mesmo sei se a lei se aplica a “seres” como eu? Alguns dizem que o governo tentou negociar, não consigo ver! Quando olho as propostas do governo, algo grita como uma sirene, você esta sendo enganada! Lute! Lute!
E eu com a minha forma especial de ver o mundo, típica de um professor, pretendo continuar a luta! Luto, por mim! Preciso encontrar minha cidadania perdida em algum lugar, preciso derrubar os moinhos! Imaginários? Insanos? Talvez!
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