Anna morava em um apartamento pequeno e confortável, num bairro calmo de uma cidade também pequena. Não conhecia os vizinhos, não tinha amigos, nem mesmo um gato. Ela tinha um companheiro, imaginário e perfeito!
Era muito competente no trabalho, simpática com os colegas, mas sempre distante. Para os moradores do bairro parecia uma pessoa feliz, com uma vida perfeita, bom emprego, boa casa, bom marido.
Às vezes, Anna se percebia só, sua imaginação falha deixava brechas e ela percebia por uma fresta de lucidez que seu mundo perfeito era falso. Quando isso acontecia era tomada por uma tristeza profunda e lagrimas vinham como enxurradas, afogando tudo. Ao amanhecer ela vestia suas roupas coloridas, de uma alegria falsa, distribuía sorrisos falsos, cumprimentos falsos e vivia mais um dia de sua “feliz vida perfeita”.
Seu companheiro imaginário, como era imaginário, adivinhava seus pensamentos! Estava sempre lá esperando para fazê-la feliz! Riam juntos, cozinhavam juntos, ouviam musica juntos e se amavam, sempre em silêncio! Porque imaginação não e muito dada a falas!
O tempo em uma vida imaginária é diferente passa e não se vê! Não se conta um tempo imaginário em relógios ou em folhas de calendário, não há dias ou ano. Há ocasiões! Não pense que uma pessoa que vive uma vida imaginária é distraída. Não! Precisa estar atenta... Qualquer mudança, gesto, palavra pode abrir brechas de lucidez. É difícil colar novamente as brechas!
Não é possível precisar o que, ou porque, Anna passou a se sentir só, seu companheiro imaginário, nunca estava, as brechas de lucidez se abriam a todo tempo! Ela as fechava todos os dias amorosamente! No outro dia, lá elas estavam abertas novamente. Até que não conseguiu mais, procurou seu companheiro, pediu ajuda, mas além de calado ele já não a ouvia! Ela viu o tempo! O tempo real, a vida real! Percebeu que vivera quase toda sua vida numa realidade inventada! Mais uma vez chorou, pela última vez chorou!
Ao amanhecer vestiu roupas sem cor de uma tristeza verdadeira, passou pelas pessoas e não as percebeu, carregando uma mala vazia. Deixou para trás toda a sua vida perfeita e imaginária. Não se carrega imaginação em malas. E foi embora! Viver uma vida imperfeita e verdadeira!
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